quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cindido eu em lua cheia passada e novamente
Entre dor e tranquilidade
Entre o sentir vazio e o preenchimento de eu
Nesse entre permeável
O existencialismo ateísta

Ao menos me livrou de culpa

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Bolívia - Santa Cruz de La Sierra - Sucre - Potosí - Uyuni - Salar de Uyuni e deserto em direção ao Chile (setembro de 2013)

Tão perto e tão longe, chegar na Bolívia é meio que um choque cultural. Enquanto o Brasil é um país de terceiro mundo disfarçado de emergente, embranquecido e acriticamente colonizado, a Bolívia aaaaah lá é terceiro mundo para toda la gente, me senti muito ignorante por saber tão pouco sobre a Bolívia, nossa mídia e aulas de história nos ensinam muito pouco mesmo sobre toda a América Latina. Chegamos em Santa Cruz de la Sierra numa segunda-feira feira na hora do almoço para ficar uma noite, como já havia pesquisado, a cidade não tem muitos atrativos, alguns pontos históricos e pontos de compra bons pra quem pretende isso, muito trânsito, poluição e desorganização maior do que qualquer metrópole brasileira. o transito realmente é caótico, as pessoas buzinam para toda e qualquer situação, não existe preferencial, todos os carros soltam muita fumaça. Para nós era uma experiência sem grandes expectativas e foi de não grandes acontecimentos, sendo o maior deles desagradável. Na rodoviária tomamos um enquadro da Interpol, éramos umas das únicas pessoas estrangeiras e o policial desconfiou de sei lá o quê e nos fez ficar bem preocupados, sismaram com o carimbo da imigração, nos levando para uma salinha, pedindo passagens de volta para o Brasil, falando coisas que eu não entendia... mostramos tudo e expliquei todo o rolé turístico que iríamos fazer, nos liberaram depois de uma canseira e um pouco de medo. Estávamos saindo de lá, ufa! Levava comigo nas melhores imagens as pixações das feministas do Mujeres Creando.


Então, no fim da tarde da terça-feira partimos para Sucre na empresa Ilimani, cada passagem 60 bolivianos num ônibus comum, velho e sem banheiro. Acredito não ter outro muito melhor, nem pior. Esse era bem ruim, a viagem ia ser longa... Logo no início da viagem o ônibus começou a lotar e encher de pessoas em pé, crianças dormiam no corredor em cima dos tradicionais panos coloridos, gente dormia em pé, encostado e subia mais gente a cada parada. Fazia muito frio, uma das paradas da estrada foi inesquecível. Muito frio, céu bonito, meio do nada, banheiro cheio, sem encanamento, cada pessoa enchia um baldinho sujo de água duma torneira e jogava no vaso, depois todo mundo ia comer, claro sem água, muito menos sabonete. Ovos fritos mergulhados no óleo, pães duros pegos com mãos sujas jogados dentro de vasilhas, sem nenhuma cerimônia, chás e mais chás. Não sei bem dizer o que foi aquela viagem, loucura... algumas coisas nem sei dizer se aconteceram mesmo, foram 13 horas ininterruptas num ônibus velho em estradas extremamente perigosas, escuras, com curvas, penhascos, caminhões, nenhuma sinalização, esburacada, maior parte não asfaltada. Ficava dormindo boa parte do tempo. Tenho a impressão de ter visto no meio do nada um super puteiro para caminhoneiros muito muito iluminado, bem coisa de filme, um monte de luzes, setas e escritos no meio do deserto. Jamais saberei. Lembro também de ter sido acordada por minha companhia de viagem assim: - Nossa! Ainda bem que você não está vendo isso... 

Sucre tem seu charme, é um pouco mais aconchegante para o viajante, coisas boas por preços bons, o Hostal que ficamos era bom, um jardim lindo mesmo, um pouco caro por isso e por ser bem no Centro, Hostal Sucre (diária do matrimonial 230 bolivianos). Algumas opções de comida vegetariana que valiam muito a pena. Destaques positivos para o visual do Mirador Recoleta, para o restaurante vegetariano El Germen e para o Cafe Bar Amsterdam fomos lá a noite, muito animado, com pessoas simpáticas, dançantes e cantantes, cervejas artesanais e boas comidinhas, era aniversário de lá e ganhamos várias bebidinhas alcoólicas muito boas que nem sei bem o que eram... Destaque negativo pro falso vapor que nos vendeu mato (felizmente bem barato o que não nos fez querer conferir). O verdadeiro mato realmente não foi algo fácil de se achar pela Bolívia.




Aos 2800 metros de altitude e comecei a sentir os primeiros sintomas do que depois fui descobrir serem do famoso e um pouco menosprezado Mal de Altitude. Apenas eu até o momento, comecei a sentir um pouco de enjoo e ter diarreia.
Em mais uma rodoviária bagunçada partimos um pouco mais perto de nosso destino final da primeira parte que era o Salar de Uyuni. Mais 3hs de viagem num ônibus um pouco melhor do que o último.

Potosí foi certeiro, eu e minha companhia passando mal, não tínhamos fôlego nenhum, pouca fome, enjoo, diarreia e dor de cabeça, estava um frio danado, o hostel era o mais simples possível com banheiro fora do quarto. O pessoal ajudava bem em informações para o padrão boliviano conhecido até então. Não deu nem pra tomar banho, além de muito frio, o banheiro tinha um vão que entrava vento e a saúde estava bem frágil e este foi um dos dias que pulamos o tradicional banho diário brasileiro. Hostal La Casona, uns 100 bolivianos a diária para o casal. Nesse momento estávamos num dos pontos mais altos da viagem 4000 metros de altitude. Não conseguimos aproveitar muito, saímos para andar e a cidade era basicamente tomada por muitos estudantes secundários bagunceiros e também trabalhadores, pouco turismo local, parece mesmo uma cidade de passagem ou ponto de apoio para outros locais perto. Pra nós com tão pouca energia foi um local para passar uma noite e fazer trâmites de banco, pois havia perdido um cartão de crédito e precisava cancelar esse e habilitar outro, o que não foi nem um pouco fácil porque ninguém conseguia explicar como ligar a cobrar para o Brasil, nem nas cabinas e empresas de telefonia. Também não se esforçavam muuuuito para ajudar nisso já que queriam vender minutos. No fim por alguns dinheiros bolivianos, muita caminhada e alguma hidratação consegui resolver. Todas as máquinas da viagem inteira são daquelas que engole o cartão, se você for daquelas distraídas como eu: - FIQUE ATENTA!
Mais uma "rodoviária" bagunçada, mais um ônibus velho e superlotado e partimos para Uyuni, umas 6hs de viagem em mais uma rodovia que se via muito pouca coisa além de deserto.


Chegamos em Uyuni tarde, lá pela meia noite, lembro de uns gringos no ônibus falando que a cidade parecia Bagdá, nunca estive lá mas achei uma boa comparação, foi uma cena inesquecível e muito nova aos meus olhos, uma típica cidade de deserto. Aí o clima muda um pouco pois já é uma cidade onde a grande maioria está para turismo pelo Salar, assim já fomos abordados logo saindo do ônibus por pessoas mascando coca e oferecendo pacotes. Muito frio, muito mesmo, salvou chegar no albergue e o simpático rapaz nos trazer um eficiente aquecedor. Deu para finalmente tomar banho e dormir bem. Acordamos cedo, ainda não muito disposta e as pessoas desse albergue eram bem legais Piedra Branca Hostel, bem na rua onde pára o ônibus. Nos deram dicas das melhores agências para os rolés do Salar, que ficavam muito perto do Hostel. Acordamos cedo com a intenção de irmos já para os Salar o que estava praticamente certo, fechamos coma Blue Line, uma agência recomendada por blogs, viajantes e pelo hostel, não é a mais barata nem a mais cara (não lembro o valor). Já com todas coisas prontas em frente à agência nos informaram que não ia rolar de ir, tinham vendido a mais. Como a gente já tinha pago tivemos que aceitar ir no dia seguinte ou até nos reembolsariam, porém a gente estava mal ainda (ou novamente) e até achamos melhor descansar um dia e ir no dia seguinte, o que no fim da viagem faria falta esse dia, mas não tínhamos muita escolha, o corpo pedia. Com um monte de coisas, cansada resolvemos ficar num hostel mais barato que ficava bem em cima da agência pra facilitar também. Então compramos gatorades, coca-cola e ficamos deitados por quase 24 hs, saímos para comer (ou tentar), nada nos apetecia e as opções da cidade não ajudavam muito. Fomos na farmácia duas vezes, o recepcionista do hotel nos recomendou um remédio que disse ser bom para caso a gente tivesse pego alguma infecção por alimento ou água. No desespero de melhorar logo tomamos esse, as pílulas de altitude que compramos em Potosí e às vezes mais analgésico. Para uma pessoa como eu que não gosta de tomar remédio, estava praticamente chapada, mas era o jeito, estava com medo de acabar tendo que ir a um médico. Foi um dia bem ruim, sensações bem diferentes, minha companhia teve também além de tudo aumento de pressão, como é hipertenso isso era preocupante e acabou aumentando a dose do remédio que faz uso diariamente. No dia seguinte bem cedo partimos para o passeio escolhido -  Salar de Uyuni 3 dias 2 noites com destino final San Pedro de Atacama.

No primeiro dia fomos ao cemitério de trens e depois logo ao salar ainda perto da cidade, ver os montes de sal que os trabalhadores fazem para depois vir buscar. Não resisti e experimentei, bem salgado mesmo, em pensar que ali algum dia foi mar... Não fomos na época que ficam espelhados, era um deserto branco de sal, imenso. Paramos na Isla del Pescado com seus cactus gigantes, ainda sem fôlego e com fraqueza fizemos a pequena trilha quase morrendo. Almoçamos por lá, consegui começar a comer neste almoço, já minha companhia só um dia depois. A comida era simples e boa.




Depois fomos para o hotel de sal, bem interessante mesmo e frio por acaso. Fui uma das poucas corajosas que se aventurou a tomar um banho por 10 bolivianos. Quando entrei no banheiro grande sem cortinas  com um chuveiro no meio e daqueles mais baratos, me arrependi, mas já tinha pago 10 bolivianos... O jantar estava bom e dessa vez já consegui comer a maior parte, mas sozinha no meio dos gringos, dois casais um da França e um da Austrália, depois de dias falando espanhol (adoro) e a preguiça de falar inglês? Agora quem passava mal também era o rapaz australiano... E que frio naquele hotel de sal...


O 2º dia foi bem legal, já estava me sentindo mais bem disposta e fomos adentrando no deserto e vendo imagens cada vez mais inéditas pra mim, sempre quis ver um vulcão e vi vários, achei lindo, já no início da primavera, um gelinho só no topo.

As lagunas com flamingos são lindas também, pena que qualquer dos visuais a gente ficava olhando mais de dentro do carro do que do lado de fora, já que era muito frio e vento.







Muitos visuais, de encher os olhos, o guia Raul era muito engraçado e simpático mas só falava espanhol e os franceses ficavam tentando traduzir para os australianos. A laguna colorada realmente é linda, pra chegar lá tem que passar por algumas bases militares, pagar algumas taxas e chegamos onde iríamos ficar, no meio do nada, num quarto todos juntos, fim de tarde e o frio já era inexplicável, mas tinha uma caminhada pra ver a laguna numa vista privilegiada e la fomos nós, devagar e sempre, uma caminhada que no nível do mar faria de olhos fechados...



E no alojamento compartilhado com banheiro externo sem chuveiro que passei mais um dia sem banho com a maior das justificativas existente no mundo, foi o maior frio que eu senti na vida. Nesta noite no jantar ganhamos um vinho tinto boliviano que mesmo não sendo bom caiu bem e também tomei dois tipos de chá misturados para altitude. Queria muito sair fora da casa e olhar para o céu, talvez o mais estrelado que pudesse ter oportunidade de ver, mas mal conseguia me mexer. Dormimos juntos na cama de solteiro com todas as cobertas oferecidas das duas camas e mais um saco de dormir por cima e um por baixo. Não dava pra se mexer ainda assim sentíamos frio. Nessa altitude e com tanto frio a noite foi muito mal dormida com direito a delírios... Acordamos muito cedo, tipo 5hs da manhã. Mais mal dormida (ou bem aproveitada) que nossa noite deve ter sido a  noite do motorista, pois logo depois de sairmos da base militar que se encontrava o alojamento ele perguntou pro gringo francês se ele sabia dirigir uma 4x4, deu umas duas dicas e pulou pro banco do passageiro e dormiu pesado. Estávamos a caminho dos geysers que tinha que ser bem cedo, o francês foi indo indo, ainda bem que dirigia bem. Depois de um bom tempo dirigindo pelo caminho mais óbvio chegamos num lugar e acordamos o motorista que pulou assustado falando que a gente tinha entrado numa produtora de gás natural e não era lá, pulou pro banco dele e voltou um pouco. Foi bem interessante ver os tais geysers e a lava vulcânica bem de perto, umas partes incandescentes e outras com cor de argila. Diz ele que um turista iraquiano já havia caído lá dentro. Mas eram tantas histórias...
As tais das águas termais eram agradáveis, algo quente no meio de tanto frio, mas não o bastante pra tirar a roupa e entrar na piscina represada como todos turistas estavam fazendo. Logo do lado do lago haviam tantas latas e lixos secos que é impressionante...



Pra fechar a sessão de visuais incríveis, o mais de todos, laguna verde e um vulcão que já ficava no Deserto do Atacama pelo lado chileno, ali as fronteiras estava bem perto e já estávamos na direção dela. Ali o frio e o vento era cortante.



Pra encerrar o rolé uma mancada da agência, o guia esqueceu da diferença de fuso horário e perdemos o ônibus que nos pegaria na fronteira e nos levaria para o Chile. Com fome, frio, cansada e com sono, nós esperamos no carro por muitas horas, quando ele viu que não ia vir mais ônibus resolveu nos levar, mas parece que não era algo simples, ele não poderia entrar com um carro boliviano no Chile, tirou o combustível de cima e toda bagagem extra, deixou com o guarda da fronteira e nos levou com medo. Parecia um portal e a estrada já era totalmente diferente, o clima começou a esquentar e rapidamente em estávamos em San Pedro de Atacama, onde o motorista nos largou e pediu que inventássemos maior história para justificar sua vinda, um de nós teria que dizer que estava passando mal e como fazia alguns dias que um chileno havia morrido na Bolívia por causa da altitude (mais uma história) ele achou que o policial da fronteira se comoveria e não iria encrencar, ele nos deixou lá falou alguma coisa pro guarda rapidamente e praticamente fugiu. Aí vieram as perguntas de fronteira mais uma vez com extras...

Aqui acaba a primeira parte da viagem, infelizmente muita informação se perdeu pois o turismo é bem roots, pouca formalidade e publicidade e como estava passando mal ou com muito frio em boa parte do passeio no salar não estava conseguindo anotar nada...